SUPER EL NINO: ESTIAGEM PROLONGADA NA REGIÃO CACAUEIRA; OS REFLEXOS DO FENÔMENO DE 2015/2016 PODE SE REPERTIR AGORA EM 2023/2024?

Por Roberto José; Kaique Brito

Inicialmente temos que enfatizar da importância de discutir o referido fenômeno no âmbito global mas principalmente seu reflexos locais, ou seja, na microrregião cacaueira, com ênfase em Itabuna e o contexto da governança da água, seja no âmbito das Bacias do Cachoeira e do Almada, pois nossa cidade extrai cerca de 30% de água do primeiro e cerca de 70% do segundo manancial.

Utilizamos ainda o artigo que tem por titulo: O EFEITO DE FENÔMENOS NATURAIS ASSOCIADOSAUMA INEFICAZ GESTÃO HÍDRICA EM UMA MÉDIA CIDADE NO NORDESTE DO BRASIL, publicado no  XXII SÍMPOSIO BRASILEIRO DE RECURSOS HÍDRICOS, em 26 de novembro a 01 de dezembro de 2017 Florianópolis- SC, no qual discutimos como o efeito de fenômenos naturais associados a ineficientes gestões de uso da água, desencadeou uma grave crise hídrica no município de Itabuna (Sul da Bahia). Artigo disponibilizado integralmente nesta matéria.

EL NINO: O QUE É?

De início é importante caracterizar o conceito desse fenômeno natural, o El Nino, o qual é caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico na sua porção equatorial, ou seja, de início na costa do Peru.

O El Nino ocorre em intervalos irregulares de cinco a sete anos e tem duração média que varia entre um ano a um ano e meio, com início nos últimos meses do ano.

Dessa forma, o referido fenômeno modifica o padrão de circulação atmosférica sobre o Pacífico, e, por consequência modifica o padrão de circulação atmosférica em todo globo terrestre.

EL NINO 2015/2016 E O SUPER EL NINO 2023/2024

Entre os anos de 2015 e 2016 aconteceu o que é chamado de Super El Niño e, atualmente, a configuração observada indica que em 2023 é possível que ele ocorra novamente em grande intensidade.

A escala do fenômeno é medida de acordo com os seguintes parâmetros:

  • até 0,9°C de mudança na temperatura é considerado fraco,
  • a partir de 1,4°C é médio;
  • de 1,5°C até 2°C é forte;
  • um aquecimento ou resfriamento de 2,5°C ou mais é classificado como super.

Durante praticamente três anos de LN, os impactos foram sentidos principalmente no centro e Norte do Brasil entre dezembro e fevereiro. Agora, é esperado que o EN se instale oficialmente em junho, antes do previsto. Em geral, ele começa a ocorrer em setembro.

A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA) declarou nesta quinta-feira (8) que as condições para a formação do fenômeno El Niño estão oficialmente confirmadas.

A ocorrência do evento de variação climática já era amplamente esperadaHá expectativa de especialistas de que ele possa até mesmo se configurar como um Super El Niño.

 Segundo o International Research Institute for Climate and Society, os dois fenômenos, El Niño (EN) e La Niña (LN), tem as seguintes características:

  • tendem a se desenvolver entre abril e junho
  • atingem o pico entre outubro e fevereiro
  • duram entre 9 e 12 meses,
  • podem persistir por até aproximadamente 2 anos
  • recorrem em intervalos de 2 a 7 anos

IMPACTOS DO FENOMENO EL NINO NO BRASIL

No Brasil, conforme mapa abaixo, ele ocasiona secas prolongas as regiões Norte e Nordeste e chuvas intensas e volumosas no Sul, ou seja, quando ele está em atuação, o calor é reforçado no verão e o inverno é menos rigoroso. Isso ocorre porque ele dificulta o avanço de frentes frias no país, fazendo com que as quedas sejam mais sutis e mais breves.

  1. Norte e Nordeste: seus estados e municípios passam por um período de seca severa, o que se deve à redução considerável no volume de chuvas para ambas as regiões. Aumenta, com isso, o risco de incêndios florestais devido ao calor extremo e à falta de umidade, além, é claro, dos prejuízos à economia e sobretudo à saúde das pessoas.
  2. Sul: experimenta chuvas muito intensas e volumosas em anos de El Niño, sobretudo nos meses de primavera e na transição do outono para o inverno. As temperaturas tendem a aumentar para valores acima da média.
  3. Centro-Oeste e Sudeste: possuem uma condição menos previsível. A tendência geral é de aumento de chuvas em algumas áreas, especialmente nos estados do Centro-Oeste, como no Mato Grosso do Sul, e padrões de temperatura mais elevados, principalmente para o inverno.”

SUL DA BAHIA: ACENTUAMENTO DA ESTIAGEM

A região Nordeste do Brasil, é um exemplo de como normais climatológicas alteram todo o quadro de infraestrutura hídrica. Em decorrência do fenômeno El niño (ciclo de 15 anos, originado pelo aumento da temperatura no oceano pacífico modificando os núcleos de condensação na América do Sul), instala-se nessa região um longo perído de estiagem que intensificam as secas em áreas áridas e atinge as zonas úmidas dimiuindo a vazão dos rios.

Este fenômeno é cíclico, e quando ocorre, caracteriza um período em que o abastecimento da água é comprometido por variáveis atmosféricas. Em zonas úmidas, como a região da Mata Atlântica, ainda é comum observar municípios que detém de estruturas de abastecimento de água fincadas apenas em sistemas lóticos, não lançando mão de reservatórios ou outras alternativas.

Segundo previsões dos institutos de pesquisas nacionais e internacionais sobre o Clima há uma grande possibilidade deste El Nino ter característica de um super fenômeno, tão forte quanto o que ocorreu entre 2015/2016, quando houve na Região Cacaueira uma estiagem prolongada que ocasionou o recebimento da água salgada na cidade de Itabuna, por absoluta falta de planejamento estratégico e de gerenciamento da pasta.

 

GESTÃO HIDRICA INEFICAZ EM ITABUNA NO PERIODO 2015/2016

Tratando-se de recurso hídrico, é irresponsável por parte do poder público e/ou eventuais empresas concessionárias confiar ao ciclo hidrológico à responsabilidade única para o subsídio ao abastecimento público de água para as comunidades.

O município de Itabuna, na região sul da Bahia, é um exemplo icônico de como a falta de uma gestão integrada de recursos hídricos atingem de forma negativa a disponibilidade e qualidade da água. A ausência técnica de elementos que congregue gestão ambiental, social e econômica, faz com que as bacias hidrográficas que disponibilizam água para as atividades locais, não satisfaçam a demanda de água em períodos de estiagem em função do seu estado ambiental.

No fim do ano de 2015 até meados de 2016, com a ocorrência do El Niño, os rios Almada e Cachoeira chegaram a níveis críticos de vazão, acarretando na diminuição do abastecimento em 97%.

Um outro agravante foi a intrusão salina na captação de água no rio Almada, que se encontra numa zona estuarina, onde a diminuição do volume d’água do rio favoreceu o avanço da água salgada.

Com a ausência de alternativas para o abastecimento de água na cidade, os órgãos gestores detiveram uma crise ao logo de 8 meses e um gasto de aproximadamente R$ 80 milhões em transporte viário de água das bacias hidrográficas vizinhas.

Por fim, a gestão sobre os recursos hídricos de um determinado recorte geográfico deve contemplar, de forma técnica e responsável, as variáveis ambientais que eventualmente possam alardear os mecanismos de produção, captação e distribuição de água. A cidade de Itabuna é um exemplo de como a falta de congruência técnica entre aspectos que envolvam infraestruturas e variáveis climáticas acentuam os problemas em períodos de crise hídrica.

Baixe aqui o artigo completo, apresentado no XXII SÍMPOSIO BRASILEIRO DE RECURSOS HÍDRICOS. 

artigo O EFEITO DE FENOMENOS NATURAIS ASSOCIADOS A UMA INEFICAZ GESTAO HÍDRICA EM ITABUNA

 

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